quarta-feira, 14 de outubro de 2015

"senta aqui"

vem cá. isso. senta. não, não vou falar de novo que tô com saudade e que gostava tanto de conversar contigo. você sabe dessas coisas. já te falei. já te escrevi. só senta, vai. quer beber algo? vou tomar café e já vou pedir uma cerveja pra você. tudo bem, volta de táxi pra casa. a cerveja tá boa, não é? agora olha pra mim. não, não fala nada. olha. sabe que eu gostei de você, né? do teu papo. do teu jeito.  tá desviando o olhar por que? não consegue me olhar? te fiz algo? shh… não, não fala. tá querendo ir pra rua acender um cigarro, não é? termina a cerveja. tá me olhando ainda? a mesa ao lado te parece mais interessante? olha pra mim. continua olhando. vou pedir outra cerveja. shh… tudo bem! não. senta de novo. eu me levanto primeiro. você termina esse ultimo gole do copo. vou entrar em outro bar qualquer. você sai, fuma seu cigarro e entra em outro bar qualquer. se for o mesmo que o meu, ou foge, ou fica. se for outro, a nossa noite segue no quarto de outra pessoa. não, ainda não. não vou levantar agora. deixa eu te olhar mais um pouco. chega mais perto. deixa eu tentar te enxergar por dentro e te entender. deixa eu ver o que talvez não veja mais. tá. vou levantar. será que agora? não precisamos seguir o roteiro que eu falei. quando eu levantar pode segurar meu braço, se quiser. shhh… não faz essa cara de deboche. tá. agora eu vou. mas se quiser pode ir primeiro. não, vamos os dois juntos. ainda não. só vou no banheiro e já volto. se quiser, fica.
Karen Becker, readaptação.