sábado, 24 de novembro de 2018

"Os desaparecimentos diários"

Das crônicas "Viagens de Um Menino Voador"

"Já faz alguns anos que eu não quero desaparecer. Apenas anseio em fugir de tudo e não olhar mais para trás. Não obstante, quanto mais eu tento esquecer mais continuo preso no passado. Vivo vomitando a minha ansiedade pelos cantos.

Todas as manhãs levanto trêmulo e com aquela velha vontade de vomitar. Ando cambaleando em direção ao banheiro, olho para as minhas olheiras no espelho, respiro fundo. Tenho a impressão de estar desaparecendo:

- "Está tudo bem Mark. Você vai ficar bem. Apenas respire. Respire e lembre-se de todas as vezes que você sentiu este medo. De todas as vezes que ficou ansioso e  sobrecarregado de tristeza e ódio. De todas as vezes que você sentiu este nível devastador de dor e desespero. E lembre-se também de todas as vezes que você perdeu o controle e acordou três dias depois sem saber onde estava e com um tubo de carvão na garganta. E apesar de tantas agulhas, corredores iluminados de hospitais, ampolas e cápsulas, você ainda esta em pé. Lembre-se, e tenha calma."
  
É, a vida tem me preparado muitas surpresas desagradáveis, e apesar de quão difícil  têm sido, eu sobrevivo sempre. Respiro fundo e confio de que tudo poderá melhorar a qualquer momento. Acredito que esta luta é parte de um longo e doloroso processo. E tenho certeza que, enquanto eu não desistir e continuar a me empurrar para a frente, não importa como as coisas parecem estar sem esperança, eu vou superar isso.

Claro, tem dias que o desespero é tão grande que tenho dúvidas se vou vencer esta luta, no entanto, de uma coisa eu tenho certeza: eu nunca vou desistir."

sábado, 10 de novembro de 2018

"Complicações - e soluções - diárias"

-"Sabe, pessoalmente falando, eu não acho que você está realmente tão mal como você diz estar."
-"Eu sei.  Mas, desculpe a grosseria, não é você que está doente, sou eu."
-"Não há nada de errado com você, meu bem. Eu repito: você não está doente!"
-"Tanto faz. Você acreditar ou não em mim não vai fazer com que esta dor desapareça."
-"Você é um hipocondríaco! Isso sim."
-"O quê? Já não basta toda esta dor que eu estou sentindo, e você ainda quer me jogar na cara que eu estou inventando tudo isso? "
-"Olha, não vou discutir mais. Vai no médico e relata suas dores a ele. Tenho certeza que o médico vai dizer a mesma coisa."
-"Vou sim!"

-"Então, o que o médico te disse?"
-"Isso é complicado."
-"Complicado?"
-"Sim. O médico me recomendou um psiquiatra."
-"Sério?"
-"Você parece cético."
-"Você disse a ele que é só ver alguém passando mal que você já entra em pânico?"
-"Sim."
-"E sobre as suas dores no peito, as palpitações no coração e suas mãos trêmulas?"
-"Sim."
-"E sobre como você não consegue dormir à noite e tem excesso de cansaço e falta de concentração durante o dia?'' 
-"Sim, sim, tudo isso! Eu disse a ele tudo o que eu disse a você."
-''Então se o médico disse para ir ver um psiquiatra, eu vou junto com você para te dar força."
-"Não sei não. Tenho a impressão que nada mais vai resolver meus problemas. Acho que esta dor no peito já faz parte de mim. Ao mesmo tempo que tento aceitá-la, eu luto contra ela. Nem sei mais o que fazer."
-"Calma meu bem, só queria sentir mais a sua presença perto de mim. A cada dia que passa te vejo mais distante."
-"Mas eu estou aqui do seu lado."
-"Diga-me uma coisa: você tem reparado na cor de meus olhos?"
-"Claro. Eles são verdes. Bem, na verdade eles são mais próximo de um verde ardósia. Eles brilham de uma forma indescritível  toda vez que você olha pra mim."
-"Será que você pode olhar bem no fundo dos meus olhos e dizer que ainda me ama, mesmo estando tão doente como você diz estar?"
-"Não seja bobo, claro que eu te amo."

(Hoje, só queria ter um dom para curar toda esta dor que você carrega no peito)

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

"A flor amarela"

Ganhei uma flor amarela da minha mãe, faz tempo. Era mês de outubro, bem no inicio da primavera, me parece. Tinha ido visitar a minha mãe e na despedida ela me deu um pequeno vaso com um tímido brotinho verde apontando do mesmo.

Ele nunca cresceu. Ficou ali, minúsculo. Apenas um frágil broto estacionado no tempo. Tinha dias que parecia secar e outros dias aparentava ser apenas mais uma erva daninha qualquer aproveitando-se da minha água, do meu adubo e dos meus cuidados. Pesquisei pra ver se encontrava alguma outra planta parecida e nada. Precisava saber se realmente era flor.

 - "mãe, esta flor é mato" - dizia eu no telefone.
 - "calma filho, eu sei que é flor" - insistia ela.

Conforme o tempo foi passando, eu fui desistindo dele. No início, colocava adubo e molhava vez ou outra. Mais tarde, apenas empurrei o vasinho bem no fundo da prateleira atrás dos outros vasos, sem nem me preocupar se o regador com água ia chegar até lá. Finalmente alguns dias depois, o esqueci completamente.

Na primavera deste ano como de costume fui ajeitar o meu jardim. Estava ansioso para ver todos aqueles meus botões de rosas, cósmeas, amarílis, manacás e camélias, bem floridos e majestosos. Era o mínimo que estes podiam me oferecer depois de tantos mimos e cuidados que dei. Ao retirar alguns excessos de trepadeiras fiquei surpreso ao ver que o vasinho que a minha mãe me deu ainda estava lá. Ainda estava vivo, embora esquecido por mim e pelo tempo. Puxei-o para perto e notei que o broto já havia crescido quase uns trinta centímetros e que no seu único galho, havia um grande botão prestes a florescer. Ajeitei-o na prateleira, coloquei um pouco de adubo e o reguei a vontade. 

Hoje ele amanheceu assim, florido. Seu único botão me trouxe uma tímida florzinha amarela simbolizando a luz e a sintonia que eu tenho com a minha mãe. Muito mais que isso, esta plantinha me ensinou o significado de ser forte, de ser persistente e paciente e, muito mais que isso, me  mostrou que é muito importante cuidar dos outros sem esperar nada em troca.

Obrigado flor amarela. Obrigado mãe.


sábado, 3 de novembro de 2018

"O brilho da Lua"

E eu peguntei - "o que era amor?" -, e ele me respondeu - "eu ainda não sei."

Tornei a insistir com outra pergunta - "porquê amar, se é tão difícil?" - , novamente continuou - "tenho muito mais dúvidas do que certezas.  E hoje, com certeza, eu só tenho você!"

"E por que você escolheu á mim?" -  passou um de seus dedos em meu nariz me deixando com cara de  bobo - "é seu jeito, seu cheiro, o modo de se vestir, como caminha, como olha o mundo E como me vê. Não sei, apenas amo. E isso me basta."

Naquela madrugada olhávamos a lua cheia quando pedi se tinha medo de me perder. Ele apenas disse que - "o amor é justamente isso. É ficar inseguro e ter aquele medo de perder a pessoa todo dia. É ter medo de se perder todo dia. É você se ver mergulhado, enredado, em algo que não tem mais controle. É amar naturalmente" -, e eu permaneci ali, imóvel, vendo o brilho da Lua em seu olhar. Me calei. Me beijou.

Depois de ouvir tudo aquilo, percebi que ele era um louco mesmo. Um louco capaz de lutar contra uma multidão só pra dizer que o nosso amor - ainda  - importava. Demonstrava estar preparado para lutar contra o mundo só para dizer que me amava, e isso bastava. 

Hoje, em noites de lua cheia, me vejo preso em meus devaneios sobre nós. E não, não sei se - realmente - o fiz feliz.

"Gays sangram arco-íris" - diz pesquisadores

Semana passada jogando conversa fora com um amigo:
Amigo: "É verdade que gays sangram arco-íris?"
Mark: "Quem disse isso?"

Em seguida, a situação transforma-se em uma conversa realmente estúpida:
Mark: "Sério? Será mesmo que eu sangro arco-íris?"
Amigo: "Sim, você só não percebeu isso porque ainda não teve nenhum corte desde que você 'saiu'!"
Mark: "E você? Não sangra arco-íris?"
Amigo: "Como saberei? Será possível? Pode ser incrível."
Mark: "Vamos cortar os pulsos e descobrir?"
Amigo: "Nããão!"
Mark: "Muahahahahaha!"