domingo, 24 de setembro de 2017

Minhas manhãs de desespero

Foto: Eder Schütz
Desespero.

Eu me pergunto quantos dias ainda vou aguentar me sentindo perdido. Pensando em onde meu desespero me fara chegar. E os dias vão passando e eu não chego a lugar nenhum.

Todas as manhãs abro os olhos e vejo as mesmas quatro paredes brancas. Eu poderia pintá-las de cores diferentes, mas  sei que elas ainda serão as mesmas. "E se eu começar a fingir? Me convencer de que sou feliz?" Nada vai mudar eu sei, mas já é um progresso. 

Sou sufocado pelos meus pensamentos que repetem incansavelvente que as coisas podem ficar piores ainda quando eu encarar a realidade e descobrir que já "eras uma vez", não tem como mudar meu destino. Pronto. Acabou. Me ferrei e sou totalmente culpado por isso. E então eu acordarei e perceberei, que cuspi no ventilador. E a vida mudou para sempre. Só me resta ficar deitado o dia todo.

De repente, você é forçado a fazer coisas que você jamais faria. Tipo de coisas que só te trazem dor e rancor. Coisas que te fazem vomitar de remorso. E descobre que, depois de tanto chorar, você esta sozinho. Descobre que isso seria a única coisa que jamais poderia ter acontecido.  Não tem como aceitar este destino, ele é desprezível e vergonhoso. O medo, o remorso e a vergonha é tão grande que você luta para não aceitar que isso aconteceu na sua vida. É difícil dar o primeiro passo na aceitação. É difícil tentar convencer a si mesmo que não tem mais volta. Mas se não fizer isso, vai ficar na mesma. Para todo o sempre. 

Acho que estou doente por não conseguir aceitar meu destino.

sábado, 23 de setembro de 2017

Você pode me ouvir?

Não sei por que mas, hoje mesmo com a presença de Mark - meu fiel amigo felino - senti uma agonizante e sufocante solidão. Sentei com Mark na janela e ficamos olhando a chuva que caía lá fora: 

-"Você pode me ouvir Mark? Queria tanto que você soubesse e entendesse o que eu estou pensando e sentindo agora." 

Mark apenas olhava para o vidro. 

-"Você pode me ouvir gritando, neste silêncio que está batendo dentro da minha cabeça, pulsando dentro das minhas veias e que esta enfraquecendo-me, lentamente? Você pode me entender Mark?" 

Eu queria gritar. Mark mau se mexeu e continuou hipnotizado olhando a chuva que aumentava cada vez mais. 

-"Você pode me ouvir?  Você pode ouvir-me?"

Estar perdido só faz a solidão aumentar e piorar a cada gota de chuva que cai lá fora. Mark então aproximou-se do meu braço, enrolou o rabo nele como se quisesse aquece-lo: 

-"Acalma-te homem!"

Disse Mark, ainda olhando para fora. Eu fiquei perplexo, não pelo fato de ouvir meu gato falar comigo, mas pela calma e serenidade nas suas palavras diante de todo caos da minha mente.

-"Me acalmar? Como?" 

Eu estava realmente nervoso - ou seria assustado? 

-"Vamos rapaz, feche os olhos. Respire. Sinta a chuva com respirações profundas. Apenas tome uma respiração profunda. O mundo lá fora esta calmo demais para esta sua mente barulhenta." 

Mark estava certo, só que eu realmente não queria respirar mais. Eu já estava exaurido de tanto respirar e nada mudar. Não era o mundo, era eu.

A chuva começou a acalmar, o movimento nas ruas começou a aumentar. Queria ir embora dali . Queria ter coragem para fazer isso. Mas não suportaria a falta de meu gato preto imaginário. Ele também iria sentir a minha falta.

sábado, 16 de setembro de 2017

Esquecemos ou não queremos lembrar?

Todos os dias  passamos por casas, pessoas, balões coloridos, ruas, olhares e esquinas. Nelas notamos inúmeras coisas.  Notamos carros antigos ou novos, rodando, quebrados ou estacionados. Casais de namorados passeando e tirando fotos para registrar um momento que será esquecido na primeira briga. Barracas de cachorro-quente visitadas por pessoas apressadas e já frias. Praças, flores e o desenho pichado no muro já gasto pelo tempo. Bancas de jornais, dando seu ultimo suspiro de uma longa e finita existência. Hidrantes e escadas de incêndio tão ansiosos pelas chamas de um prédio. Tampinhas de garrafa no chão esperando apenas por um chute que dará vida a sua eterna inutilidade. Pessoas, padronizadas ou não, todas andando apressadas para não chegar atrasadas a seu destino. Não obstante, notamos até o formato das lajotas na calçada tão pisoteada e cansada. 

Talvez esta seja a nossa vida na era pós-moderna. Um viver correndo pelas ruas, pensando, digitando e agindo em telas e pensamentos. Realmente, andamos muito ocupado nesta vida. E é natural esquecermos de notar aquilo que realmente nos incomoda. Aquilo que sabemos que também é de nossa responsabilidade. Esquecemos de notar. Esquecemos a árvore verde e inútil lutando contra os úteis e esplêndidos arranha-céus. O músico tocando pra receber trocado na praça. O mendigo dormindo no chão com pedrinhas cutucando a sua alma. A criança que não se esforçou o suficiente passando frio na rua. Esquecemos ou não queremos lembrar?

Logo nós, que somos tão humanos, observadores e detalhistas, sofremos deste terrível mal do esquecimento.