sábado, 26 de maio de 2018

"Dialogo IV" - Saga dos Diálogos


Nada está definido na Saga dos Diálogos. Nem os personagens, nem os assuntos, nem os ambientes onde ocorrem. Minha única afirmação é que eles são reais (pelo menos em minha mente). Fica livre para cada um entender o que melhor lhe convier.


DIÁLOGO IV
- Por que você fez isso comigo?
- Se você falar o que eu fiz talvez eu possa te explicar.
- Eu não me conformo com a sua falta de confiança.
- Eu desconfiei de você? Quando? Sobre o quê?
- Você tinha que ter confiado em mim. Nós somos amigos ou não?
- Claro. Eu te considero meu amigo e te quero muito bem.
- Então,  nossa amizade é importante para você?
- Saiba que todas as pessoas que andam comigo, ao caminhar da minha vida conquistam um lugar em minha história e em meu coração.
- Ou seja, minha amizade é ou não é importante para você então?
- Você, por me conhecer, deve saber que sim.
- Se minha amizade é importante para você, porque não confiou em mim?
- Por que você acha que eu desconfio ou desconfiei de você algum dia?
- Não disse que você desconfia de mim.
- Mas então?
- Disse que você não confiou em mim.
- E por que você diz isso?
- Por que  talvez eu pudesse ter te ajudado. Imagino que o que você passou e passa ainda não deve ser fácil. E eu poderia ter te ajudado.
- De que maneira você acha que poderia ter me ajudado?
- A verdade é que... não sei bem.
- Então?
- Mas eu estaria ali para te dar apoio, para conversar, pra te ajudar, pra te defender.
- Você sabe que estas são minhas escolhas ou o preço delas. E como sempre falo: “somos frutos de nossas escolhas”.
- Eu sei que esta batalha é sua. Mas a certeza de poder contar com alguém ajudaria.
- Acredito nisso sim.
- Por isso que te pergunto de novo: por que não confiou em mim?
- Não confiei como?
- Não falando abertamente.
- Falando o quê?
- Sobre você, sobre seu estado, sobre sua situação. Sobre este caos que paira sobre sua alma.
- Como assim?
- Independente disso, tenha a certeza de que sempre poderá contar comigo.
- Tá bom. Que bom ouvir isso de você novamente. E tenha a certeza de que a recíproca é verdadeira.
- Mas na próxima vez vê se conta, vê se fala sobre você de boa. Seja sincero comigo e contigo também. Afinal de contas somos amigos.
- Tudo bem, vou tentar falar tudo, okay.

Comentário de um leitor: "Amei o texto. Sempre me vejo nas situações em que o dialogo se passa. Porém hoje, diante da situação que eu passo, tenho que discordar de uma frase: “somos frutos de nossas escolhas”, pois nem sempre somos frutos do que escolhemos, as vezes somos obrigados a aceitar situações em nossas vidas que jamais sequer imaginamos passar e somos obrigados a engolir o choro e aceitar esta derrota que ocorre em nosso interior. Enfim, é isso. PS: Continua escrevendo adoro seus textos!"

"Depressão? Imagina, isso nem existe"


Já se passaram alguns anos e eu me sinto psicologicamente na mesma situação. Com o passar do tempo, tentei compreender um pouco mais das sensações que tomam conta da minha mente e do meu corpo. 

Vou citar aqui alguns sentimentos e experiências - mentais  ou físicas - que tenho vivenciado ultimamente:
1) Coração acelerado com um grande aperto no peito.
Acredito que sejam dores psicossomáticas. Sinto quase sempre, principalmente pela manhã. É uma sensação de "dor no coração" causada por uma grande mistura de angústia, medo, remorso, ódio e culpa. Não tem cura, segundo especialistas.

2) Desejo de morte súbita.
-Isso não é frequente. Ela varia de acordo com as informações que recebo durante o dia. Quanto mais eu sei, mais quero morrer.

3) Pensamentos de auto-rejeição.
-É um sentimento muito destrutivo. Tenho magoa de mim mesmo. Os sintomas são: sentimento de culpa, inferioridade, auto-compaixão, auto-decepção, complexo, indignidade, vergonha, ódio, podendo ate levar a atitude eterna de suicídio. Coisas como: "falhei", "eu sou um fracasso", "só faço os outros sofrer" fazem parte de minha vida.

4) Ausência de projeto de vida.
-Parei de estudar e dei um tempo no meu projeto de independência financeira. Muitos me procuram, pois querem minha ajuda. Eu não sei quando vou voltar.

5) Sensação de inutilidade.
-Não consigo fazer mais ninguém sorrir. O que tenho presenciado ultimamente é um grande mar de tristeza que tomam conta das pessoas que estão á minha volta.

6) Solidão.
-Tudo mudou. Minha mãe, meus amigos, meus gatos, meu Natal, meu aniversário e até meu vício em filmes e redes sociais (!) acabaram perdendo o brilho com que eram vistos pelos meus olhos. Isso é o que me deixa mais desesperado.

7) Isolamento.
-"Estou com dor de cabeça. Estou cansado." - é só o que eu sei dizer para ficar o dia todo trancado no quarto, fingindo estar dormindo.


PS¹: Ao sentirem alguns destes sintomas procure ajuda psicológica profissional - ou pode ser uma mãe - pois isso pode destruir sua vida.

PS²: Eu já fiz até tratamento com anti-depressivos, não resolveu. Alguns amigos cansaram da minha tristeza e foram embora.

PS³: A minha mãe vem me visitar semana que vem. Que as forças divinas me ajudem a mostrar a ela que esta tudo bem comigo. Ela merece ser feliz.

"Perdido"


Das crônicas "Viagens de um menino voador"


"Perdido"

Ele gostava de voar,
Ele gostava de mergulhar no ar.
Ele adorava tudo isso,
Quando estava vivo.

"Um dia", disse o menino,
"Eu vou morar junto ás nuvens,
E voar todos os dias.
E apenas ser livre. "

E agora ele faz,
Com o Sol ou com a lua.
Ele sempre vai voar.
Pois o menino está perdido - morto.

terça-feira, 22 de maio de 2018

"Uma sombra"

"Estava vendo alguns episódios de "Thirteen Reasons Why" e comecei a pensar em como aquilo romantiza, ridiculariza e até negligência um transtorno psicológico.

Quem me conheceu antes de 2011, teve o prazer de conviver com outra pessoa. Primeiro a doença (depressão) despedaçou minha estima. Eu baixei a cabeça e comecei a "pensar demais". Depois ela me fez parar de fazer coisas que eu gostava: escrever, desenhar, editar, ler, ouvir música, estudar, sair com amigos, visitar entes queridos. Em pouco tempo me tornei um profissional desmotivado e um estudante fracassado. Rapidamente meus relacionamentos - familiares ou amorosos - começaram a decair e falhar. Eu passei a me sentir cansado e me achar insuficiente pra qualquer coisa, e esses sentimentos estragam tudo. Acredito que é melhor não entrar em nenhum tipo de relacionamento, isso evita machucar a si e aos outros. 

A insegurança tornou-se devastadora e soterrou meus projetos de vida para o futuro. Minhas amizades, quase todas se afastaram. A verdade é que poucos conseguem ficar perto de alguém que está o tempo todo triste como eu, ou mesmo quebrar a barreira que criei pra aguentar meu sofrimento silencioso. Hoje acredito que não faço diferença alguma na vida de nenhuma delas, na verdade sou apenas suportado. Melhor assim, não quero ninguém sendo contaminado pelo meu silêncio e pela minha angústia.

Ela (a depressão) arrancou minha voz e a vontade de querer sair de casa. Quanto mais quieto e isolado eu ficar, melhor. Interações sociais são dolorosas e cansativas. Eu já tentei acabar com isso algumas vezes, partindo do suicídio, passando pelo chá de Ayahuasca e chegando até o Ácido Lisérgico Dietilamida (LSD). Ambos falharam. 

Seguindo os conselhos da minha mãe, aderi aos antidepressivos - ansiolíticos, sedativos e hipnóticos - e até hoje continuo consultando meu psiquiatra - que se tornou meu amigo -, tomando os remédios e acreditando que tudo ficará bem um dia.

No meio de todo este caos psicológico, ainda coexisto com dois sentimentos distintos e muito dolorosos: a) Perder alguém que se ama. b) Viver sabendo que você é só uma sombra triste e angustiada, sendo o extremo oposto do que era antes.

Uma sombra melancólica do meu eu antigo.  Aparentemente sem valor algum. Uma hora isso acaba. Quem sabe um dia. Nenhum sofrimento é eterno."

sábado, 19 de maio de 2018

"Eu pedi a minha mãe"

Então, aqui estou eu mais uma vez. Sim, eu ainda estou vivo, no entanto, muito fraco. Ainda tenho que aprender mais sobre as "coisas da vida". Esta é uma ideia antiga, que eu queria fazer isso desde o início dos verões, mas eu nunca encontrei o momento certo. 

Lembro que, a última vez que fui para casa dos meus pais, pedi a minha mãe para me ajudar com estas "imagens na minha cabeça". Não foi tão bom quanto imaginava, mas espero que todos vocês as vejam um dia também - ou nunca. 

E eu prometo que vou tentar ficar acordado e ainda tirar mais fotos. Espero, em breve, tirar mais fotos na Índia também. Sei que isso vai custar muitas semanas da minha vida, mas vou morrer tentando.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

"Amor, dualidade e ódio"


Prólogo: "Lembranças"
Estes últimos meses, eu aprendi mais sobre mim mesmo do que jamais esperava saber. Acabei conhecendo os monstros que vivem sob a minha pele que faz minha antiga vida parecer distante, apenas memórias. Como alguém que conheci: "era uma vez e meia". Esqueci. Um lembrete incômodo de que a pessoa que me tornei não é necessariamente a melhor pessoa que poderia ser. Mas, amigos, eu sobrevivi ao caos do sofrimento físico e psicológico. Eu costumava sempre me dizer que era um pesadelo e logo iria acordar. Jamais acordei e ainda tive que aceitar este pesadelo como parte de minha nova vida. Ou inútil, mesmo. Até pensei que poderia ser algo aceitável e/ou especial. Eu estava errado. Desde aquele momento eu só queria voltar no passado. Voltar a vivenciar tudo o que acontecia na minha vida há muito, muito tempo atrás.

Ato I: "Mentiras doerão um dia"
Eu cresci com todas as suas más intenções. Eu cresci pensando "o que seria de mim se nunca tivesse te conhecido?" Porque com certeza, sabendo que você me mudou mais do que eu gostaria de admitir. Mais do que eu sempre quis. Eu não sou o mesmo menino-homem que você se apaixonou. Aquele se foi. Se você  quiser continuar a me amar, vai ter que me conhecer novamente. "Você já tentou?" Uma vez que é tão fácil fingir amar alguém nos dias de hoje e muito mais difícil realmente dizer e fazer isso de uma forma diferente a cada dia. Nunca mais minta novamente. Isso é uma coisa que não vale a pena fazer. Não há uma terceira chance.

Ato II: "O esquecer"
Toda vez que eu penso em você me transformo em uma pessoa diferente e surge um sentimento diferente. Tanto que eu não tenho a menor ideia de quem eu sou. E você está preso em mim.  Falando em silêncio. Isso me vira a cabeça a quilômetros de distância, mesmo quando não estamos falando, ainda assim não podemos esvaziar os espaços que costumavam ocupar na mente um do outro. Eu juro que, mesmo quando estou ocupado em esquecer você, você é a única coisa gravada na parte de trás das minhas pálpebras cada vez que eu pisco. Você está em todos os lugares, mesmo quando não te quero ou você não me quer. Você está em todos os lugares, mesmo quando eu acho que posso te esquecer. E eu ainda estou na ponta da língua toda vez que você faz um novo amigo ou fala com um conhecido. Mas acredito que, nem eu nem você, vai admitir isso. Nós não podemos evitar o pensamento sobre o problema, e isso está ficando difícil.

Ato Final: "Amor, dualidade e ódio"
Talvez nós apenas estamos indo para trás. Não é este o mesmo lugar que estávamos anos atrás? Não estamos desesperadamente tentando ser alguém diferente por ser o mesmo que era antes? Às vezes, eu me pergunto "qual é a coisa mais insignificante que eu já fiz para você? Ou a que te fez sentir mais dor? E amor? ". Eu faço as minhas escolhas como elas vão me definir, mas em seguida (três dias depois), eu não consigo lembrar o tom exato dos seus olhos ou o que eu estava usando a primeira vez que nos beijamos. Eu percebo que meu cabelo ainda é uma completa bagunça, e eu ainda não posso falar com você sem gaguejar. E que você ainda está desaparecido. Que não há mais nada a dizer. E depois de tudo isso, a única coisa que posso pensar é como nós dois somos mentirosos, como eu ainda quero amar você, e como eu realmente não quero perdê-lo mesmo odiando.

"Um coração ainda pulsa em nós"

Que mania feia é essa que o ser humano tem. Esta de querer se apropriar uns dos outros. Sabe aquele sentimento de poder e posse sobre as pessoas das quais amamos ou convivemos? Sinto muito, mas tenho duas péssimas notícias a você: "ninguém é dono de ninguém". E a verdade mais cruel: "ninguém é obrigado a conviver com quem não quer". Isso é tão simples quanto parece, no entanto, tem muita gente que não é capaz de entender isso.

Se uma união aconteceu, claro que foi por atração. Nós somos seres extremamente visuais e obviamente nos aproximamos de outra pessoa porque, num primeiro momento, suas características físicas nos atraíram e nos despertaram o desejo de querer conhecer o outro. Evidentemente que para a relação ser duradoura, após este magnetismo visual, procuramos no outro  características que vão garantir uma boa convivência a dois: gostos, estilos e objetivos de vida, ideais, etc. Neste momento inicial do primeiro contato com o outro, já podemos afirmar que - com toda certeza - os iguais se atraem e provavelmente darão mais certo. Os iguais se atraem sim, e claro, possuem uma ligação bem mais forte que os diferentes. Tenho certeza que todos entenderam que não estou me referindo a gênero e nem é meu foco falar sobre isso.
   
Voltando ao assunto inicial, temos que ter em mente que uma união bem sucedida não nos dá o direito de controlar as vontades e os desejos do parceiro. Na verdade, para pessoas inteligentes, o respeito pelo espaço do outro é o princípio de uma relação saudável e bem sucedida. Temos que ter bem claro que em momento algum podemos deixar que o nosso egoísmo, muito bem escondido até então, destrua o glamour do relacionamento a dois. Este egoísmo, quando manifestado de forma abrupta, desmancha todos as surpresas e traz um vazio consigo. Este espaço vazio logo é preenchido com cobranças, inúmeras interrogações, brigas e obviamente o inicio do fim. O amor começa a adoecer e a saúde física e mental  dos envolvidos tende a piorar cada dia que passa. Afinal, neste ponto do relacionamento, tudo já esta envolvido: coração, mente, corpo, sonhos, bolso, vida. E isso nos faz começar a pensar como um sentimento que nos fez tão bem, um dia poderia culminar no término de nossa saúde.

O que fazer então? Não sei. Acho que ninguém sabe. Mas se ainda temos interesse em nos manter no relacionamento o primeiro passo fundamental é dar um espaço ao outro. Se necessário dar um tempo, uma oxigenação emergencial ao relacionamento. Vai dar certo? Não sei. Contudo, é muito mais fácil pensar quando se esta olhando do lado de fora de um desentendimento.

Por mais difícil que seja mudar nossos hábitos, nenhuma mudança  verdadeira acontecerá se algo violentamente não mover dentro de nós. É preciso sair do eixo.Ter consciência de que o relacionamento esta por um fim, saber que podemos tomar alguma atitude para tentar mudar o momento, permanecer estático, e não colocá-la em prática, é o mesmo que não ouvir a  nossa alma pedindo socorro. O amor estará agonizando aos gritos dentro de nós. Como disse, não dá pra entender os gritos quando estamos tão perto de quem grita. No momento do caos, não adianta tentar sentir de dentro pra fora.  Então, afaste-se um pouquinho e ouça. Tente entender de fora para dentro. Seja inteligente e muito racional.

Libertar-se ou destruir aquilo que possui força dentro da gente é muito difícil. Claro que é. No entanto, fazendo uma analise consciente e racional sobre os problemas, e assim ir nos moldando e agindo, nós conseguiremos dissolver pelo menos um pouquinho do orgulho e do egoísmo, que podem estar pondo em xeque o relacionamento. Como quase tudo na vida, se realmente queremos manter o relacionamento, lutar de forma árdua para que isso aconteça é obrigatório.

Contudo, depois do primeiro desentendimento mesmo que o problema seja resolvido, temos que ficar ciente que alguma coisa mudou dentro de nós. A magia foi quebrada pela primeira vez e isso deixará marcas para sempre. Então não se preocupe, afinal apaziguar o coração é a missão que devemos cumprir o quanto antes se quisermos continuar a ser feliz. E manter o amor, carinho e respeito entre os dois é o que precisamos no momento. Um coração ainda pulsa em nós.  E o amor é a força, é a vida. Então, vamos observar e ouvir mais as batidas e cuidar muito bem delas.

sábado, 12 de maio de 2018

"Você é tudo pra mim"



"Até que ponto o medo de perder uma pessoa nos faz continuar amando-a intensamente?"

A viagem
No carro, indo para uma cidade qualquer, para ver alguma coisa qualquer. Imagine uma estrada toda cercada de mato a se perder no horizonte. Albert e eu resolvemos sair pelo mundo a procura de coisas simples. Decidimos viajar pelo mundo sem destino, parar num hotel beira de estrada pra dormir e comer qualquer besteira pelo caminho.

Sempre indo, sempre em frente. Disse a ele que queria sair á noite pela estrada e parar num gramado qualquer para ver as estrelas.

- "Sou romântico, gosto de coisas simples e aprecio sentir sensações mágicas." - dizia com um brilho no seu olhar.

Ajeitando-se no banco do carro, trocou a marcha e aproveitou para colocar a sua mão em cima da minha perna:

  -"E aí meu bem, esta gostando da nossa viagem?"

Eu olhei para sua expressão de homem sério na cara, dificilmente vejo Albert sorrindo. No entanto, sempre percebo quando ele realmente esta feliz. Talvez esta seja uma das características mais fortes que eu vejo nele e que me atrai cada vez mais. Eu sou do tipo desgovernado, sempre fazendo piadinhas sem graça de tudo, rindo alto, ás vezes até um pouco indiscreto. Ele, ao contrário, é a discrição em pessoa. Olhei para ele e respondi:

  - "Você sabe que sim amor. Eu gosto de estar aqui com você. É uma coisa maravilhosa!"

Um silêncio ensurdecedor nos atropela a alma. A paisagem verde passando e ficando para trás. Continuei olhando pra ele, que parecia estar concentrado na estrada. Sou muito observador, gosto de ficar olhando o outro em silêncio, assim eu posso sentir e tentar entender como é o verdadeiro eu das pessoas quando ninguém esta as observando. Ele continuou em profundo silêncio. Apenas ri. Um riso tímido e verdadeiro. Uma felicidade tomou conta da minha alma e eu agradeci em silêncio, aos céus, por eu ter o encontrado e por ama-lo tanto.

Albert tem uma tranquilidade única para se viver a vida. É extremamente calmo, além de possuir uma inteligência extraordinária. Não é atoa que é um dos melhores professores da universidade em que trabalha. 

Ajeitei-me no banco, arrumei o cinto, passei a mão lentamente sobre sua barba, a qual sou apaixonado, diminui o som do rádio e quase hesitei:

-"Meu bem, andei pensando em algumas coisas, e, preciso lhe falar sobre isso." - um olhar mais sério do que  já é, me bombardeou.

  -"E o que é Mark? Aconteceu alguma coisa?"

Neste momento consegui imaginar e perceber o desconforto que as minhas palavras causaram a ele. Albert é um homem muito seguro do que quer,  e umas das questões que se passava pela cabeça dele era: "o que eu queria da minha vida?" Ele sempre teve medo de um abandono. De que eu saia da sua vida sem dar explicações, simplesmente desaparecer sem deixar notícias.

Olhei pra frente, para o nada, tentando agir de uma forma que não o deixasse desconfortável. Era uma pergunta simples.

  -"Albert, lembra como foi o nosso primeiro encontro? Lembra do nosso primeiro beijo?" - sem deixar ele responder continuei falando - eu e minha mania de falar demais.

  - "Meu bem, para mim foi a coisa mais mágica do mundo."

Parei de falar, esperando por uma resposta. Albert diminuiu a velocidade do carro, me encarou:

   - "Foi legal."

Uma forte tristeza invadiu meu coração. É um homem simples, de poucas palavras, mas eu sinto que ele me ama do jeito dele. Este é o seu jeito de me amar. Claro que eu desejava que tivesse sido tão especial e mágico quanto foi para mim. Talvez nunca foi.

Não deixei que isso atrapalhasse nossa viagem, mudei de assunto. Aumentei o som do rádio, abri a janela do carro, encostei a cabeça no banco e, sentindo a brisa fresca no rosto, deixei que as arvores continuassem passando lá fora.

terça-feira, 8 de maio de 2018

"Os sequilhos com goiabada"

"Criei o costume de toda semana comprar sequilho com goiabada na padaria perto daqui de casa. Comê-lo bebendo um café sem açúcar tornou-se, sem exagero, um dos momentos mais deliciosos da semana (tirando o dia da coxinha com café). Mas a goiabada me incomodava. Não necessariamente ela, mas sua pouca quantidade. Era um pingo no meio do sequilho. Reclamei na padaria, chamei o padeiro de casquinha e tudo mais. 

Outro dia, voltando do estágio, passei pela padaria e, pra minha sorte, disseram que havia um sequilho especial pra mim. Lá estava, o meu sonho num sequilho de um real. Quase que completamente coberto de goiabada. Chegando em casa, preparado o café e toda a ritualística necessária para consumir o apetecível sequilho, ocorreu que não comi nem a metade. Enjoei na segunda mordida. Doce demais, chegava a dar náuseas.

Dia seguinte, cheguei na padaria e lá estava: outro sequilho coberto de goiabada. Me ofereceram e, por vergonha de dizer que odiei o do dia anterior, comprei. Em casa, raspei a goiabada e comi.  

O problema, o inferno, não era a goiabada nem o padeiro, era eu. Fui eu quem, amando o que amava, queria do meu jeito, sem entender que eu gostava era do jeito que era, porque se do meu jeito fosse, eu rejeitaria, enjoaria e até tentaria fazê-lo voltar a ser como era. Assim fazemos com as pessoas também. No início as amamos como são, depois que estão conosco começamos a criticar, tentamos mudá-las, tentamos "colocar do nosso jeito", sem saber que nosso jeito são nossas projeções, pessoas que não existem, e que se existissem, enjoaríamos delas. Transformamos para descartar, porque quando aquela pessoa muda, muito provavelmente quem gostávamos não está mais lá.
 
Essa semana voltei a padaria, pedi o sequilho sem goiabada e mandei avisar ao padeiro que o próximo texto quem escreve é ele, provavelmente virá algo de bom, ainda que não seja doce." (Autor: Jonathan Araújo)

sábado, 5 de maio de 2018

"Se eu pudesse te daria o arco-íris"


Às vezes,  escrevo o seu nome com lápis da cor do arco-íris nas paredes. Ás vezes meu quarto cheira você e, quase sempre, eu não posso suportar o seu silêncio. Me triste e angustiado. É um silêncio frio, do tipo que entra em minhas veias e me deixa vazio.  O fato é que: eu  ainda sinto sua falta.

Sonhos com você protagonizando, são feitos para me fazer perder a cabeça. A vibração e os detalhes são tão realistas. No entanto, não é porque você realmente esteja aqui, com seus braços em volta de mim - eu os sinto tão real, oh meu Deus, eles são tão reais - mas eu sei que é por que ainda te amo. E o fato é que: eu desejo te esquecer, mas não consigo.

Às vezes, eu me pergunto se pode haver um botão secreto que você pressiona para alcançar a felicidade. Repetidas vezes, eu me pergunto quem e o que é realmente meu. E eu me penso se você me deixou para ir encontrar o seu. O fato é que: talvez, eu nunca poderia te fazer feliz.

Eu nunca aprendi a fazer um monte de coisas. Eu não sei nem amarrar direito meus sapatos. Eu não sei nadar. Eu nunca aprendi a costurar minhas roupas rasgadas. Quem sabe se eu aprender a te deixar ir? Isso não importa. Se te deixar ir, eu tropeçarei em meus sapatos, e me afogarei na minha solidão e não poderei costurar os pedaços do meu coração. O fato é que: eu preciso de alguém pra me ensinar essas coisas do coração.

Você costumava me dizer "eu te amo", e por vezes eu quase acreditei em você. Muitas vezes, pensei que você  me queria. Claro que podia ver que você falava da boca pra fora, mas me recusava a acreditar. O fato é que: você nunca foi um bom mentiroso, e eu sempre acreditei em você.