sábado, 12 de maio de 2018

"Você é tudo pra mim"



"Até que ponto o medo de perder uma pessoa nos faz continuar amando-a intensamente?"

A viagem
No carro, indo para uma cidade qualquer, para ver alguma coisa qualquer. Imagine uma estrada toda cercada de mato a se perder no horizonte. Albert e eu resolvemos sair pelo mundo a procura de coisas simples. Decidimos viajar pelo mundo sem destino, parar num hotel beira de estrada pra dormir e comer qualquer besteira pelo caminho.

Sempre indo, sempre em frente. Disse a ele que queria sair á noite pela estrada e parar num gramado qualquer para ver as estrelas.

- "Sou romântico, gosto de coisas simples e aprecio sentir sensações mágicas." - dizia com um brilho no seu olhar.

Ajeitando-se no banco do carro, trocou a marcha e aproveitou para colocar a sua mão em cima da minha perna:

  -"E aí meu bem, esta gostando da nossa viagem?"

Eu olhei para sua expressão de homem sério na cara, dificilmente vejo Albert sorrindo. No entanto, sempre percebo quando ele realmente esta feliz. Talvez esta seja uma das características mais fortes que eu vejo nele e que me atrai cada vez mais. Eu sou do tipo desgovernado, sempre fazendo piadinhas sem graça de tudo, rindo alto, ás vezes até um pouco indiscreto. Ele, ao contrário, é a discrição em pessoa. Olhei para ele e respondi:

  - "Você sabe que sim amor. Eu gosto de estar aqui com você. É uma coisa maravilhosa!"

Um silêncio ensurdecedor nos atropela a alma. A paisagem verde passando e ficando para trás. Continuei olhando pra ele, que parecia estar concentrado na estrada. Sou muito observador, gosto de ficar olhando o outro em silêncio, assim eu posso sentir e tentar entender como é o verdadeiro eu das pessoas quando ninguém esta as observando. Ele continuou em profundo silêncio. Apenas ri. Um riso tímido e verdadeiro. Uma felicidade tomou conta da minha alma e eu agradeci em silêncio, aos céus, por eu ter o encontrado e por ama-lo tanto.

Albert tem uma tranquilidade única para se viver a vida. É extremamente calmo, além de possuir uma inteligência extraordinária. Não é atoa que é um dos melhores professores da universidade em que trabalha. 

Ajeitei-me no banco, arrumei o cinto, passei a mão lentamente sobre sua barba, a qual sou apaixonado, diminui o som do rádio e quase hesitei:

-"Meu bem, andei pensando em algumas coisas, e, preciso lhe falar sobre isso." - um olhar mais sério do que  já é, me bombardeou.

  -"E o que é Mark? Aconteceu alguma coisa?"

Neste momento consegui imaginar e perceber o desconforto que as minhas palavras causaram a ele. Albert é um homem muito seguro do que quer,  e umas das questões que se passava pela cabeça dele era: "o que eu queria da minha vida?" Ele sempre teve medo de um abandono. De que eu saia da sua vida sem dar explicações, simplesmente desaparecer sem deixar notícias.

Olhei pra frente, para o nada, tentando agir de uma forma que não o deixasse desconfortável. Era uma pergunta simples.

  -"Albert, lembra como foi o nosso primeiro encontro? Lembra do nosso primeiro beijo?" - sem deixar ele responder continuei falando - eu e minha mania de falar demais.

  - "Meu bem, para mim foi a coisa mais mágica do mundo."

Parei de falar, esperando por uma resposta. Albert diminuiu a velocidade do carro, me encarou:

   - "Foi legal."

Uma forte tristeza invadiu meu coração. É um homem simples, de poucas palavras, mas eu sinto que ele me ama do jeito dele. Este é o seu jeito de me amar. Claro que eu desejava que tivesse sido tão especial e mágico quanto foi para mim. Talvez nunca foi.

Não deixei que isso atrapalhasse nossa viagem, mudei de assunto. Aumentei o som do rádio, abri a janela do carro, encostei a cabeça no banco e, sentindo a brisa fresca no rosto, deixei que as arvores continuassem passando lá fora.

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