sábado, 13 de outubro de 2018

"Mãe" (parte I)


Foi uma noite mal dormida. A mais longa de todas. Uma mistura muito grande de dormir e acordar assustado, de ter pesadelos que se conectavam entre si. Realmente, foi uma noite de sono extremamente cansativa e desconfortável.

Enfim, aquela manhã chegou como todas as outras. Normal para todo mundo, mas para mim não, aquela não era uma manhã normal. Se bem que, como eu já falei outrora, eu não me dou bem com as manhãs. Acho elas - as manhãs - muito tristes e vazias. Talvez porque eu sempre espero acordar do lado de alguém que amo, mas esta pessoa nunca esta lá pela manhã.

Levantei, tomei um banho e como de costume, fiquei olhando meu rosto no espelho. Não tinha como esconder aquelas olheiras, nem com rodelas de pepino fresco que uma colega havia me recomendado. Mãos trêmulas, respiração ofegante e uma espécie de nó na garganta com uma dor no peito. As primeiras tentativas de ligações caíram na caixa postal, contribuindo imensamente para meu atual desespero:

  -"Alô, mãe? É o Mark!"

  -"Oi filho, aconteceu alguma coisa?"

Impressionante como Deus colocou a melhor das essências nas mães. Elas sempre sentem quando o filho não esta bem, elas sofrem junto. Eu tenho uma frase que levo sempre comigo e acredito muito nela: "mães sempre sabem da gente, e mesmo assim, continuam nos amando". Se tenho que agradecer a Deus por alguém, é por ter ela. Perdi as contas de quantas vezes fui vê-la só para dormir na sua cama ou deitar no seu colo. Foram muitas. Mesmo já sendo um homem barbado, ela ainda me coloca no colo e me trata como seu eterno bebê. Um filho que nunca cresceu. O cheiro da minha mãe, sem dúvida é o melhor do mundo. Talvez por eu ser assim, minha mãe será a única mulher na minha vida.

- "Mãe, o pai esta em casa?" - minha voz quase sumiu esperando pela resposta.

- "Estamos sim filho, mas porque isso? Você esta doente? O que esta acontecendo?" - minha mãe entrou em desespero.

Fixei meu pensamento em um único objetivo. Um objetivo egoísta, talvez seja mesmo. Pensei somente na minha felicidade naquele momento.

-"Mãe chama minha irmã e fiquem aí em casa todos vocês. Estou pegando um ônibus e viajarei para aí." - respirei fundo numa mistura de medo e felicidade.

- "Que bom filho. A mãe tava com saudades mesmo." - imaginei minha mãe sorrindo ao telefone, deixando bem definidas suas marcas de expressões na face, trazidas pelo cansaço do tempo.

-"Tenho algo á dizer pra vocês que irá mudar nossas vidas para sempre. A minha e a de vocês, para sempre, mãe!" - minha mãe ficou em silêncio. E em seguida disse alguma coisa que não pude compreender.

A ligação caiu. Um pobre, sem créditos e sem dinheiro para colocar. Encostei a cabeça na janela do ônibus e comecei a pensar em como ia falar com a minha mãe. Um vazio foi tomando conta de mim. Não sei o qual era pior: o vazio do bolso ou o vazio da minh'alma.

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