terça-feira, 18 de julho de 2017

Faça o que precisa ser feito

"É claro que as pessoas precisam de uma outra que as completem. O vento que sopra em uma delas também vem soprar na outra"

Na sacada da casa de Gabriel - o anjo em minha vida - tínhamos uma vista maravilhosa. Um entardecer com um Sol nostálgico pondo-se no horizonte, escondendo-se atrás de todas as montanhas ao longe - a cidade que Gabriel morava era rodeada de morros e montanhas criando um visual lindo e peculiar. Gabriel tinha um olhar angelical atrás de seus óculos.

-"Meu amigo Gabriel que bom te ver assim tão feliz!"
-"Feliz Mark? Estou plenamente, magicamente feliz por você vir me visitar numa data tão especial assim. Mark seu maluco - insistem em me chamar de maluco ou doido - você entrou no meu círculo de amizade e de certa forma, não sei bem certo a qual, me fez aceitar que mesmo não sendo perfeito eu sou feliz e posso fazer as pessoas felizes. Obrigado!"

Olhando um para o rosto do outro, apoiamos nossos braços sob a beira da sacada e continuamos a ver o Sol sumir devagarinho na linha do horizonte. Desviei o olhar, ele riu e eu também. Fui surpreendido repentinamente com uma lágrima silenciosa sobre a face de Gabriel. Agora com uma aparência não tão feliz assim.

-"Mark, me abraça meu amigo."
-"Não seu maluco! Alguém pode nos ver aqui na sacada."
-"E daí? Eu sou gay assumido e você nem é daqui desta cidade. Meu amigo preciso somente de um abraço confortável que me traga segurança. Por favor?"

O rosto de Gabriel já estava todo molhado de lágrimas. Abracei-o. Ele suspirou. Tentou pronunciar algumas palavras, mas era quase impossivel entendê-las.

-"Mark, eu fiz tanta coisa em minha vida. Não me arrependo de nada. Errei e aprendi, caí e levantei. Posso me considerar um cara feliz. Porém existe uma coisa que me persegue, que não me deixa eu ser plenamente feliz."
-"Gabriel, se quiser compartilhar comigo eu estou para ouvi-lo. Amigos são principalmente para estes momentos!"
-"Nunca falei sobre minha orientação sexual com minha mãe e," - Gabriel tirou os óculos e tentava enxugar as lágrimas do rosto - "eu sei que ela sabia sobre mim, sempre fui covarde e nunca falei abertamente sobre isso, mesmo eu sabendo que ela me amava e me aceitaria como eu sou realmente. Minha mãe era a única pessoa que fazia me sentir seguro e confortável no mundo."

Gabriel baixou a cabeça, colocou a mão sobre o rosto e continuou:

-"Ela fazia um cafuné em minha cabeça e eu me sentia preparado para todas as decisões que eu precisava tomar. Minha mãe era a melhor do mundo, eu deitava na cama dela e achava a cama mais cheirosa do mundo."

Gabriel levantou a cabeça, enxugou os óculos - agora também molhados - olhou pra mim colocou a mão sobre meu rosto acariciando-o:

-"Rapaz, meu rapaz... Não  sei porque mas você se parece muito com ela!"

Não queria quebrar aquele momento, então coloquei a minha mão sobre a dele:

-"Mas Gabriel, o que está esperando homem? Esta é sua chance, este é seu momento. Liga pra ela e diz o que você quer dizer de verdade."
 -"Não dá Mark!"

Gabriel fechou os olhos, as lágrimas cairam novamente.

-"Por quê?"
-'Ela já morreu!"

Ele chorou alto, me abraçou e apertou.

-"Meu amigo, ela morreu e, eu sinto tanta falta dela!"

Ficamos os dois abraçados, e em soluços, naquela varanda. O silêncio de um anoitecer anedônico calou a voz de minha alma. O destino me afastou do meu grande amigo Gabriel. Espero que ele tenha superado a sua perda e a sua dor. 

2 comentários:

  1. Nossa passagem por este plano está repleta de surpresas, algumas agradáveis outras nem tanto...
    Como distinguir a intenção das Moiras ao fazerem com que certos fios de vidas fizessem um nó?
    O certo é que sempre aprendemos algo com estes "nós"...

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    1. O importante é que estamos ligados por este fio precioso chamado AMIZADE!
      Obrigado pela visita!

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