"Dedicado ao seu Juquinha, que não é nenhum herói, é meu pai."
O Sol apontava timidamente seus primeiros raios sobre as montanhas que cobriam todo o horizonte.
"Estou com medo mãe. Estou tentando encarar tudo isso de cabeça erguida. E assim vivo tentando. Tentando reconstruir todos meus melhores momentos. E o tempo vai passando e eu nem dou conta do quanto estou infeliz na tentativa de voltar no tempo".
Minha mãe me olhou com um olhar firme.
"Filho, não podemos viver do passado. Temos que amadurecer e seguir em frente!"
Eu engoli o choro mais uma vez, mesmo sabendo que minha mãe não se importaria se eu chorasse na sua frente.
"O fato é que o 'seguir em frente' pode ser mais difícil do que pensamos, mãe..."
Meu pai entrou na varanda tateando uma cadeira para sentar. Ficou olhando para o nada, tentando imaginar o que se passava entre minha mãe e eu. Desde que meu pai perdera a visão se tornou uma pessoa extremamente sensível e auditiva. Consegue ficar horas ouvindo uma conversa antes de dizer uma palavra sequer.
"Mark, você esta deixando sua mãe e eu muito preocupados. Fala filho. Quem sabe o paizinho aqui, que não sabe de nada destas 'cabeças de jovens', pode ajudar."
Eu abracei meu pai.
"Sabe o que é pai? Estou com muito medo! Estou passando por um momento em que as coisas ao meu redor parecem ter perdido o sentido e entrei num profundo processo de auto-questionamento. Aqueles valores, sabe pai? Crenças e condutas que até então eram válidos já não são mais e, ao mesmo tempo, não consigo reformulá-los. Tudo isso é sentido por mim como um ‘vazio dolorido’ ou um ‘caos interior’."
Meu pai começou a chorar. Há muito tempo ele vinha acompanhando minha tristeza sem falar nada. Ele estava sofrendo comigo em silêncio.
"Filho, não precisa falar nada para o pai se não quiser, eu entendo pelo seu silêncio que você esta sofrendo... Mas, embora sinta muito sofrimento,eu sei que este é um momento precioso da sua vida por ser uma época de virada e superação."
Minha mãe se aproximou. Choramos os três abraçados na varanda. Peguei minha mochila, coloquei meus óculos e o fone de ouvido. Já estava atrasado para o ônibus.
"-Filho quando você vai melhorar?"
"-Não sei pai, não sei."
Hoje, me sinto abençoado por ter o pai mais compreensível do mundo. Ele é um herói que não usa capa. É meu herói. É meu herói.
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